Gestão Amb. novo paradigma de Administração

Alberto Pereira dos Santos*
Mais do que uma crise financeira global, nós, terráqueos, vivemos uma crise de percepção na qual alguns tentam se apegar ao velho paradigma cartesiano do século XVI e aos métodos antiéticos que os impedem de ver e sentir a mutação tecnológica e filosófica da espécie Homo sapiens que está em evolução desde o período pleistoceno, na era cenozóica, há cerca de um milhão de anos na Geo (Terra).
Fundamentando-nos na Geoética (concepção filosófica que, em síntese, propõe uma ética da Terra, modo de viver e intervir no mundo como terráqueo em evolução), podemos considerar a gestão ambiental como um novo paradigma de administração em permanente aperfeiçoamento dos métodos de organização, controle, produção e consumo na sociedade global. Na Terra tudo se transforma, o que equivale a dizer, segundo o físico Fritjof Capra, “o que há de permanente é a mudança”.
Historicamente, sabe-se que os princípios de administração científica surgiram a partir da segunda metade do século XIX, e somente em 1911 foram publicados por Frederick Winslow Taylor (1856-1915), considerado o pai da Administração. Naquele contexto histórico de revolução industrial, a concepção cartesiana da natureza não possibilitava pensar no uso dos recursos naturais de modo sustentável, ou seja, não havia a preocupação com a questão ambiental tal como ocorre neste século XXI.
Embora a palavra gestão seja sinônimo de administração, é equivoco pensar que gestão ambiental seria o mesmo que dizer “administração ambiental”. Isso seria reproduzir um mero reducionismo cartesiano da etimologia das palavras. Nada inovador.
Para compreendermos o sentido de um novo paradigma de administração a partir do surgimento da gestão ambiental se faz necessária a visão de mundo embasada no novo paradigma emergente desde a descoberta das partículas subatômica através da física quântica, na década de 1930, e do despertar da consciência ecológica a partir da década de 1960. Apenas como referencial histórico bastaria dizer que a junção das palavras “educação ambiental” surgiu pela primeira vez na história do Homo sapiens somente em 1965 d.C, num encontro de estudantes na Universidade de Keele, no Reino Unido.
Por sua vez, o conceito ISO 14.000, que propõe a implantação de métodos de produção com garantia de respeito à legislação ambiental, ou simplesmente o sistema de gestão ambiental (SGA) vêm se popularizando desde 1992, quando ocorreu a II Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. A partir da Rio-92 o conceito de gestão ambiental foi ganhando espaço na sociedade, especialmente no meio empresarial mais avançado.
Mas como a evolução é natural, o conceito de qualidade ambiental ISO 14.000 avançou e, na atualidade, propõe-se o chamado ISO 18.000 que, além de agregar a visão de gestão ambiental restrita aos aspectos dos recursos naturais e da produção mais limpa, incorpora os aspectos humanos e a qualidade de vida das pessoas nas organizações.
Isso vem sendo preconizado desde os primórdios do despertar da consciência ambiental na década de 1960. Trata-se de uma tendência cultural na sociedade global, ou seja, da ascensão do paradigma ecológico que sugere o nascimento de uma civilização fundamentada na energia solar.
O paradigma ecológico, portanto, vem sendo paulatinamente incorporado na sociedade: primeiro nas empresas mais avançadas e nas organizações não-governamentais; depois, em alguns setores da administração pública, em governos mais democráticos com as políticas públicas ambientais (coleta seletiva, reciclagem, fiscalização ambiental mais eficaz e educação ambiental). Contudo, ainda estamos muito longe do ideal, embora a velocidade nos processos de incorporação da gestão ambiental esteja em constante crescimento.
Os embriões de uma nova civilização não estão congelados. Ao contrário: estamos em pleno processo de gestação de uma nova humanidade. A Terra está ambientalmente grávida da nova geração planetária. Somente as mentes sombrias, obscurecidas e retrógradas ainda relutam em permanecer no passado, tentando debalde impedir a evolução. Mas esta evolução é histórica, dialética, natural e irreversível.
Os amantes da sabedoria, ou os filósofos da geoética, estão em todos os recantos deste planeta azul. Dentre estes estão uma nova geração de geógrafos e gestores ambientais graduados, pós-graduados e inúmeros em processo de formação. Por mais que alguns tentem se apegar, intencionalmente, a certos comportamentos petrificados, até mesmo a geologia comprova que as rochas também furam sob a paciência e a perseverança dos pingos d´água.
(*) É mestre em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor dos cursos de Geografia e Gestão Ambiental da Universidade Guarulhos (UnG).

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