Organizações do Complexo do Alemão querem políticas e não só ocupação militar

Natasha Pitts, da Adital
Nas últimas semanas, o Rio de Janeiro ganhou a atenção do mundo inteiro com as operações policiais empreendidas no complexo de favelas do Alemão. O tráfico de drogas e a criminalidade foram as problemáticas reveladas pela mídia como sendo os principais causadores da guerra urbana que mais uma vez assombrou o Alemão. Mas, para além desta realidade, as comunidades cariocas passam por outros problemas que também merecem atenção.

Buscando despertar os três níveis do governo para uma série de demandas reprimidas, organizações e movimentos sociais, unidos por meio do Comitê de Desenvolvimento Local da Serra da Misericórdia, promoverão na tarde desta quint-feira (2/12) uma reunião de articulação para propor uma Agenda sócio-ambiental para o território da serra da Misericórdia e dos complexos de comunidades do Alemão, da Vila Cruzeiro e da Penha.
O encontro será realizado na sede do Instituto Raízes em Movimento (Rua Diogo de Brito, 245 - Ramos) e, de acordo com Sérgio Ricardo, ambientalista e membro da ONG Verdejar, contará com a presença de organizações da sociedade civil e com representantes do poder público, entre eles membros da Secretaria Estadual de Direitos Humanos e do Gabinete Civil do Governo do Estado.
As propostas que serão apresentadas amanhã não são novidades e dizem respeito a necessidades básicas das comunidades como saneamento, energia, mobilidade urbana, lazer e cultura, entre outros. Segundo Sérgio Ricardo, boa parte do que será demandado já foi prometido diversas vezes após outras ocupações policiais e também durante períodos eleitorais.
“O que acontece é que a região tem uma forte marca da ausência do Estado. Esta última ocupação foi a quarta ou quinta e aconteceu com uma diferença das outras, o fato de não ter chacinas. Apesar de ter se transformado em espaço de violência, há organizações trabalhando no Alemão e desenvolvendo projetos há mais de uma década. Nós queremos cobrar que os projetos bem sucedidos, muitos que inclusive nunca receberam um centavo do governo, passem a receber apoio”, explica Sérgio.
Durante os anos de trabalho na comunidade, o ambientalista destacou que alguns ecologistas foram responsáveis, entre outras coisas, por replantar uma área onde só se via pedras e hoje existe uma mata com grande valor ambiental. Para que o cuidado com esta área fosse mantido, organizações ambientais conseguiram junto à Prefeitura do Rio de Janeiro que a Serra da Misericórdia fosse decretada Área de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana - Aparu e ainda que fosse construído um parque ecológico, que nunca saiu do papel, mesmo sendo uma obra do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC.
Denunciando as promessas que não saíram da teoria, Sérgio Ricardo relembrou que até hoje os moradores do Alemão esperam a implantação da Lona Cultural, uma iniciativa que já existe em outras comunidades, mas que nesta não se concretizou.
Alguns projetos, como o Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, até têm início, mas são interrompidos por falta de estrutura ou desinteresse dos idealizadores.
“Estima-se que a comunidade tenha de 30 a 40 mil crianças, mas o projeto de esportes que oferece bola, uniforme, lanche e uma remuneração bem precária para os monitores só atende de 150 a 200 crianças. Na verdade, o projeto nem está funcionando mais por falta de campo para as crianças jogarem, pois os espaços estão ocupados por condomínios ou por falsas lideranças comunitárias”, denuncia.
Os movimentos e organizações sociais atuantes no Alemão buscarão, além de apoio a projetos que garantam uma vida digna à população das comunidades periféricas, também o reconhecimento do seu trabalho na região, considerada a mais pobre do Rio de Janeiro.
“O Alemão sofreu um esvaziamento econômico, degradação, intensa poluição e sofre ainda com outros problemas. O que esta região necessita é de políticas públicas sérias, não de planos mirabolantes, caros e irreais saídos da cartola do governo. Há projetos sérios que precisam ser reconhecidos e apoiados”, encerrou o ambientalista.

Fonte : Mercado Ético

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