Dia do Meio Ambiente ou do Greenwashing?

O catarinense Germano Woehl Jr é doutor em física pela UNICAMP, Pesquisador Titular do Instituto de Estudos Avançados, em São José dos Campos (SP) e nas horas vagas se dedica na defesa da Mata Atlântica através do Instituto Rã-bugio.

26 Mai 2010, 15:40

O termo “greenwashing” pode ser traduzido com “lavagem verde” e tem no ambientalismo uma conotação equivalente a “lavagem de dinheiro”. É usado há mais de duas décadas para designar informações tendenciosas ou propaganda enganosa de algum produto ou serviço rotulado de “ecologicamente correto” ou que visam mascarar a má conduta ambiental de uma organização (empresa, instituição pública etc.) ou indivíduo.
Quando a questão ambiental entrou na moda muitas empresas e instituições públicas se obrigaram a lançar mão deste artifício para não terem sua imagem arruinada perante a opinião pública. É claro que temos muitos bons exemplos de empresas que optaram pelo caminho da ética e se esforçam para diminuir o impacto ambiental além até do que a lei obriga.
Nas páginas na internet de grandes empresas, geralmente com passivo ambiental, é comum encontrar no tópico “responsabilidade ambiental”, informações como estas que extrai do website de uma delas: “Para não poluir nossos preciosos e escassos recursos hídricos, a empresa tem estação de tratamento de efluentes (ETE); tem ligeiras devidamente identificadas para os funcionários separarem adequadamente o lixo; preocupada com o aquecimento global, a empresa fez um reflorestamento de Pinus, plantando 500.000 árvores.”
É comum as empresas incluírem na parte de responsabilidade ambiental aquilo que são obrigadas a fazerem por lei, caso contrário, não podem operar. Como a ETE, citada no exemplo acima. É a mesma coisa que incluírem no tópico de responsabilidade social o pagamento em dia do 13º. salário e o descanso semanal remunerado.
Nem é necessário mencionar que em muitos casos as empresas têm a ETE para cumprirem os requisitos necessários do licenciamento ambiental obrigatório, mas instalam, clandestinamente, um sistema de “by-pass”, ou desvio, de modo que a maior parte dos efluentes sem tratamento siga diretamente para os rios. O mais terrível de tudo é que nas datas comemorativas, todo este lixo que estas empresas disponibilizam em suas páginas na internet vão parar nos jornais, ocupando páginas e mais páginas daqueles cadernos especiais de meio ambiente, na forma de matérias jornalísticas. E a data preferida para esta prática do “greenwashing” é o dia do Meio Ambiente.
Lembro-me que há alguns anos, a imprensa sempre procurava avidamente as ONGs ambientalistas para saberem da agenda no dia do Meio Ambiente ou nas outras datas comemorativas. Nos últimos anos, não tem sobrado paras as ONGs nem um cantinho nesses especiais recheados de anúncios das empresas, que são disputadíssimos. Os meios de comunicação descobriram um filão do mercado e agradecem aos que ficam criando estas datas para o oportunismo da prática do “greenwashing”.
É incrível a criatividade destas empresas e instituições públicas e até pessoas físicas para divulgarem na mídia que estão “fazendo a parte delas” em prol do meio ambiente. Aproveitam para divulgarem na mídia algum procedimento rotineiro que, na maioria dos casos, é a espinha dorsal do negócio, e coincidentemente tem um aparente apelo ecológico, mas falso quando se analisa todas as etapas do processo. Exemplo: “Nossos produtos não agridem o meio ambiente, pois usamos matéria prima proveniente de fontes renováveis”.
Há um caso de uma empresa que comprou uma mata preservada para ampliar suas instalações. Desmatou uma parte com uma autorização muito duvidosa do órgão ambiental, deixando o restante para desmatar aos poucos, conforme a necessidade de expansão. Então, contratou um anúncio, daqueles bem caro, de página inteira, em uma grande revista de circulação nacional para dizer que tem preocupação com o aquecimento global e “preserva” esta área de Mata Atlântica, já sentenciada à morte, para estocagem de carbono, de modo a compensar todas as emissões de gases causadores do efeito estufa em sua unidade fabril.
Não há limites para a prática de “greenwashing”. Não é desperdiçada nem a oportunidade de surfar na onda da ignorância das pessoas. Não faz muito tempo, li nos jornais uma matéria sobre a reclamação de um empresário do ramo da indústria química que criticava severamente o órgão ambiental porque estava demorando em conceder-lhe a licença ambiental de operação para “reciclar” óleo de cozinha usado. Disse na entrevista que considerava um “absurdo” tantas exigências do órgão ambiental para um empreendimento que iria “ajudar” a natureza. O jornal comprou a briga e desceu o cacete no órgão ambiental.
Lembrando que este tipo de atividade usa insumos químicos perigosos e gera resíduos altamente tóxicos para transformar um óleo vegetal, 100% biodegradável, que usamos como alimento, em substâncias que vão poluir para sempre o meio ambiente, como tintas e vernizes. Ou seja, é uma indústria química como qualquer outra. Tudo o que precisam é da ingenuidade das pessoas para obterem matéria prima barata ou de graça. Para atingirem os objetivos, promovem estas campanhas alarmistas (falsas) onde o óleo de cozinha (óleo vegetal que está presente em vários tipos de sementes) foi eleito o maior poluidor do Planeta.
Nestas campanhas duvidosas para as pessoas a fazerem algo pelo planeta, obviamente que nunca pedem para reduzirem o consumo de óleo de cozinha, apenas que depositem em algum lugar a maior quantidade possível do resíduo das frituras, estimulando ainda mais o consumo. Isto lembra as campanhas da 2ª. Guerra Mundial para as pessoas doarem as panelas velhas para fabricação de armas, onde os mais patriotas doavam até as novas.
Este comportamento da sociedade nos revela uma triste e assustadora realidade: quase ninguém está disposto a fazer algum sacrifício em prol do meio ambiente. Preferimos viver na ilusão de que é fácil fazer a nossa parte para salvar o Planeta. Basta doar nosso lixo para os pobres que resolvemos todos os problemas ambientais e sociais. Com esta lógica perversa do “quanto mais lixo geramos, mais ajudamos os pobres” nunca foi tão fácil aliviarmos nossa consciência. Resta saber quanto tempo vai durar este nosso mundo da fantasia, ou melhor, do “greenwashing”.Tags:greenwaschingresponsabilidade empresarialsustentabilidade

FONTE: http://www.oeco.com.br/germano-woehl/23983-dia-do-meio-ambiente-ou-do-greenwashing

ALGUNS COMENTÁRIOS FEITOS SOBRE ESTA PUBLICAÇÃO
 
Ótimo artigo Germano, realmente é muito importante alertarmos a população em
relação aos embustes apresentados por determinadas empresas, para que a
população possa apurar o espírito crítico e separar o joio do trigo.
Parabéns pelo trabalho!
O verde é, na verdade, bem cinza.
Pedro Henrique Costa 27/05/2010 11:44:10
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Ótimo artigo. Sou jornalista e estou abrindo uma empresa de brindes
ecológicos. Fico impressionado, a cada nova pesquisa que faço, como as pessoas/empresas usam o mkt verde falso. Faz meses que luto para abrir uma empresa que seja transparente em relação às condutas ambientais e vejo o quão difícil é. Sinto como se tivesse sempre um "diabinho" facilitando os caminhos para as condutas "cizentas". Mas vou continuar lutando pelo meu ideal. Trabalhar com consciência traqüila e em prol de um futuro melhor é meu objetivo.
Vergonha-Semana do Meio Ambiente
Marília Gruenwaldt 01/06/2010 11:58:10
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Tem a destruição das árvores da Praça Niso Viana, na região da Granja Viana.
Para comemorar a data, a prefeitura de Cotia este ano, resolve incentivar o desmatamento, com o objetivo de estimular o estilo de vida despreocupado com as emissões de carbono, destruição e conservação das florestas e consumo consciente.

A destruição pública tem o propósito “educativo” de conscientizar as pessoas para que elas se tornem agentes destruidores da cidade, e “melhor” promover atitudes devastadoras do meio ambiente em suas comunidades.
Se a campanha for um sucesso, em pouco tempo teremos em
Cotia e outras cidades do entorno as mesmas paisagens "verdejantes" da
Zona Leste de São Paulo.
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Para saber
mais visite o Blog:

artigo
Denise 01/06/2010 12:09:37
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Germano, Muito obrigado por este alerta.

Geralmente o publico nao sabe discernir entre Relacoes Publicas, Advertising e um trabalho serio de base.
Estou visitando o Brasil e onde estou localizado a muitas queimadas feitas por pessoas leigas a saude publica e a lei do meio ambiente. Estes sao os Caseiros de ranchos de festas, nao instruidos pelos donos de Rancho, que ao inves de reciclar o lixo, resolvem queimar e poluir o meio ambiente. Sempre que posso alerto as autoridades na esperanca que eles venham tomar uma providencia. Outra area do meio ambiente que necessita de muita atencao no Brasil e a do som e barulho. Esta semana saiu um bom artigo no Jornal da Cidade a este respeito. Os leitores poderao acessa-lo neste

link: http://www.jcnet.com.br/detalhe_geral.php?co digo=184173

Um abraco!
Conscientização
Ivete 01/06/2010 21:35:55
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Ótimo artigo, Germano. Deveria estar na primeira página de grandes jornais, pura ilusão, claro, pois ninguém iria ganhar nenhum dinheiro com esta informação. Porém a NATUREZA e as pessoas que se preocupam de verdade com o meio em que vivem agradecem todo o seu trabalho! Obrigada por cuidar tão bem do lugar onde vivemos!

Novos Desafios
Edison Masakatu Goto 01/06/2010 22:11:58
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Assim como se apropriam indevidamente e degradam os recusos naturais, as máquinas de produção do lucro a qualquer custo agora avançam inescrupulosamente sobre os valores e conceitos construidos com esforço dedicação de abnegados idealistas.
As dificuldades se multiplicam, porém desanimar ou desistir não é uma opção. Todo apoio à defesa da vida. Como escreveu Mahatma Gandhi "Só sei que através da história a Verdade e o Amor sempre venceram." sabão feito com oleo de cozinha e soda caustica. romeu 02/06/2010 00:20:13
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Sai bem barato,limpa deixa a roupa fedendo a oleo de cozinha e tem um poder de poluição incrivel.
 mais infelismente é assim mesmo como fazer pessoas entenderem,que devemos poluir o menos possivel é tarefa muito dificil.
Gostei
muito de seu artigo.tenho problemas tambem tento tornar a praia de itaguare em bertioga unidade de conservação da praia a serra do mar gostaria de ter sua participação.tenho blog www.sositaguare.blogspot.com  sabão feito com oleo de cozinha e soda cáustica II
Wagner Augusto de Carvalho Acc 02/06/2010 03:02:39
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Se o que Romeu escreveu for verdade, então até a aranha está em palpos: a revista Terra da Gente, na edição 73 página 82, dedicou meia página ao óleo de cozinha, ensinando a fazer o tal sabão. Com essa receita, já estava começando a filtrar e separar o óleo. Se até uma revista especializada em preservação, muito séria, fornece um conceito hipoteticamente errado, estamos numa situação muito estranha, aberrante, eu diria.

Ivo Linsmeyer 02/06/2010 03:43:53
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Como amante e defensor da natureza me sinto muitos vezes totalmente desalentado, desanimado, desmotivado mesmo diante de tanto descaso, despreocupação, e minimização dos problemas que estão na nossa cara por parte da nossas autoridades responsáveis. E digo das autoridades, mas essas só refletem o desejo de nosso povo...o povo já nasceu desprovido dessa sensibilidade de dar valor ao que herdamos de riquezas naturais neste Continente privilegiado...e o grande problema é que só amamos ou gostamos daquilo que conhecemos...em breve os mais jovens nem o direito de conhecer um pedaço de mata atlântica terão...é muito preocupante isso. Mas, quero parabenizá-lo pelo seu incansável trabalho que tenho acompanhado. E esse termo "Greenwashing" pra mim é novo mas muito bom. Tenho percebido isso há muito tempo...a lavagem verde...É preciso dar uma pesquisada nos grandes bancos que fazem uma propaganda brilhante, mostrando uma imagem de salvadores do Planeta, será que não estão financiando os grandes desmatadores da Amazônia?...ou dos resquícios de nossa moribunda Mata atlântica?...Tenha uma semana produtiva...abraço...

Achei,demais..
Maria Nazaré S.Bispo 02/06/2010 04:02:09
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Realmente,muito boa essa matéria.... como já disse antes admiro,o trabalho de voces..Parabéns e publiquei,na rede de amigos que faço parte pra todos lerem...um abraço
Onde vamos parar!!!!
Fabiana Schramm Ferreira 02/06/2010 05:55:34
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Olá Germano!
Parabéns novamente pelo seu trabalho, admiro muito!
Quanto ao assunto, cada vez que vejo coisas assim só penso em como minhas filhas vão viver daqui a 20 anos (ou menos)....
Consumidor vs Consumista
Lise da Rocha Vivès 02/06/2010 06:07:19
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O consumidor, através do consumo, move as empresas e as mantém, gerando mais ou menos resíduos. O consumista compra ainda mais, gerando ainda mais resíduos e poluentes. Paremos de ser consumistas, de comprar o desnecessário, e nos tornemos consumidores responsáveis! Somente o necessário!!!

Clarisse Marchi 02/06/2010 07:30:27
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olá Germano, parabéns pelo artigo, muito bom!!! Estive há pouco em Jaraguá do Sul para um compromisso profissional, pena que não deu tempo de conhecer o trabalho de vocês. E essa história de compensar as emissões com uma área de floresta preservada é pura balela mesmo, até porque é preciso garantir a manutenção desta área por décadas, o que eu duvido...abraços!

ELES QUEREM TRANSFORMAR TUDO EM TORRES

MARIA VALDELICE 02/06/2010 07:32:

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