Faixas não são decorativas

Mortes por atropelamento caem na capital. Porém, 470 pessoas perderam a vida em nove meses deste ano.


De janeiro a setembro deste ano, 470 pedestres morreram atropelados na capital. Segundo a CET, isso representa uma queda de 7,7% na comparação com o mesmo período de 2009, quando 509 pessoas foram vítimas de atropelamentos fatais.

Mas ainda não dá para comemorar a redução. É preciso muito trabalho a ser feito e para que os acidentes de trânsito matem menos nas vias brasileiras. As taxas nacionais são cerca de duas vezes as registradas no Canadá e uma vez e meia a dos EUA, de acordo com cálculos da Associação
Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).

Pelos dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), somente de janeiro a  setembro de 2010, houve o registro de 536 boletins de ocorrência de homicídio culposo por acidente de trânsito na cidade. Em 2009, 701 boletins dessa natureza foram registrados.

Para tentar brecar ainda mais as mortes nas ruas, a Prefeitura informa que lançou um programa de sinalização de faixas de pedestres. A iniciativa incluirá 4.245 delas, entre a pintura de novas ou a manutenção das já existentes. A ação começou
em agosto e vai até dezembro.

"Elas estão sendo pintadas com uma tinta especial, que reflete melhor à noite ou durante a chuva, por exemplo. Sabemos que o pico de atropelamentos ocorre entre 18h e 20h", explica Nancy Schneider, superintendente de Educação e Segurança de Trânsito da CET.

A Prefeitura destaca que outras 274 faixas de pedestre ganharam iluminação nova na cidade até outubro último. A colocação de gradis é outra ação, para evitar que as pessoas atravessem em locais de risco, como em corredores de ônibus.

Vias que registram maior índice de atropelamentos têm os orientadores de travessia, que inibem que os pedestres atravessem fora das faixas.

Para se ter ideia do problema, das 671 pessoas que morreram atropeladas ao longo de 2009 na capital, 63% estavam fora da faixa de pedestre e 11% andavam na pista quando foram atingidas. O levantamento da CET revela também que 9% das mortes ocorreram em calçadas e 3% no canteiro central. Naquele ano, apenas 14% das vítimas foram atingidas quando estavam na faixa de pedestre.

Avaliação para barrar motoristas perigosos
Em 1996, a implantação do programa Paz no Trânsito reduziu as mortes e acidentes de trânsito no Distrito Federal, na época governado por Cristovam Buarque.

Com apoio da mídia, sobretudo do jornal Correio Braziliense, a iniciativa se tornou referência ao conscientizar pedestres e motoristas da importância de se respeitar a faixa de pedestre.

E além da conscientização, para reduzir os índices atuais de mortalidade em acidentes de trânsito no país, também é preciso investir em formação.

"É necessário que haja uma educação continuada com a reciclagem e a avaliação constante do estado de saúde dos motoristas", afirma Dirceu Rodrigues Alves Júnior, diretor do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da Abramet.
foto: Arquivo/ Diário SP
Carro para sobre faixa de pedestre na Rua 25 de Março, no Centro


Segundo ele, cerca de 10% da população é composta por motoristas que sofrem de algum tipo de estresse no trânsito e são capazes de cometer atos de fúria quando estão atrás do volante. Isso inclui desde agressões verbais até ataques físicos nas ruas.

Outro grupo que merece atenção é o dos jovens do sexo
masculino com idade entre 18 e 29 anos. "No entender de muitos deles, o carro é símbolo de status e fator de conquista em relação ao sexo oposto. Nesse contexto, a compulsão pela velocidade pode ter resultados trágicos", diz o diretor da Abramet.

Para ele, a análise psicológica contínua e encaminhamento psiquiátrico de muitos casos poderia tirar das ruas até 25% do universo de motoristas considerados um perigo em potencial.

entrevista
Cristovam Buarque_ Senador e ex-governador
Acidentes caíram graças à educação
DIÁRIO_ O que explica o sucesso do "Paz no Trânsito"?
CB_ Em uma palavra: educação. O programa incentivou o respeito à faixa de pedestre e a redução de velocidade. Foram meses de trabalho para educar a população, e não apenas os motoristas, que vieram depois.

Mas como foi esse trabalho?
Falávamos com as crianças que convenciam os pais. Com as mulheres, mais interessadas do que os
homens a reduzir a velocidade. Com os pais, que pressionavam os jovens a tomarem cuidado. Ocorreu em ondas.

E a fiscalização?
Ao lado da educação, houve ações de repressão: multas e punição dura. Senão não daria certo. Havia PMs nas faixas de pedestre e fomos pioneiros nos radares do tipo pardal.

As mortes foram caindo?
Sim, e as pessoas acompanhavam os resultados. Mensalmente, colocávamos um cartaz na sede do governo com a queda nas mortes e pessoas hospitalizadas e o consequente aumento na quantidade de leito vazios nos hospitais.

Dá para adaptar o programa?
Uma cidade como São Paulo poderia começar por partes, por alguns bairros. Brasília, por exemplo, é cortada por estradas de alta velocidade. Basta querer fazer. Mas a campanha educacional, que transforma um lugar, não pode parar nunca. Volto a dizer, educação e repressão.

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