Camila e as Conferências de Sustentabilidade: um caso da vida toda


Ela nasceu em 1972, ano em que foi realizada a Conferência de Estocolmo, o primeiro evento internacional a encarar os problemas ambientais a partir de uma visão global. Em 1992, a jovem estudante de 20 anos embalada pelo emergente discurso ambiental que chegava ao Brasil, decidiu participar da Cúpula da Terra, um dos maiores encontros de líderes mundiais da história. Hoje, aos 40 anos, a mãe e professora traz a sua filha para participar dos processos para a Rio+20.


Essa é Camila Tenório Cunha, professora de educação física paulista, residente do município de São João da Boa Vista, que tem sua história de vida intimamente entrelaçada com questões ambientais. Para a professora, meio ambiente, mais do que um assunto da moda, é um tópico transversal, que está ligado a diversos outros pilares da sociedade, e por essa razão deve estar inserido no dia-a-dia das pessoas.

O Envolvimento e a Família

“A gente respira política em casa”. Camila e Laís

Questionada sobre como a questão ambiental entrou em sua vida, Camila fala sobre como ainda estudante da Unicamp envolvida na discussão política acabou chegando na Eco92. “Na verdade, vim participar de um evento estudantil e acabei aproveitando a coincidência.” Sobre a militância ambiental, afirma: “discutir ecologia para gente era discutir democratização. A partir do momento em que conseguíssemos fazer que o Brasil realmente se tornasse democrático, a gente conseguiria colocar a agenda da ecologia em pauta, dando espaço para o diálogo entre governo e sociedade civil”.
A família de Camila sempre teve interesse por questões políticas. “A gente respira política em casa”, ela afirma, e orgulhosamente fala de sua participação das Diretas Já. “Eu bati panela pelas diretas já. Fui naquela passeata, vivi aquele momento, fui cara pintada.”
Não é por coincidência, então, que todo esse senso de justiça e responsabilidade com o meio ambiente foi passada de mãe para filha. Para Camila, como mãe, ela deve apresentar essas discussões a sua filha, Laís Cunha, de 16 anos, criando nela o que chama de “sensibilidade coletiva”.
“A angústia de minha filha sempre foi com questões relacionadas ao meio ambiente. Com 10 anos, ela fez uma carta para o embaixador Canadense no Brasil sobre a matança de focas naquele país. Então reuniu 300 assinaturas na escola e enviou o abaixo-assinado à Brasília. Numa manhã, algumas semanas depois, recebemos uma ligação do próprio embaixador indicando que aquilo não acontecia mais.”
Para Camila, há hoje um grande avanço no que se refere à luta ambiental, e a participação dos jovens tem sido muito importante neste processo. “Eu acho que muita coisa melhorou. Em minha época, não tínhamos acesso a toda essa tecnologia – nem pensávamos nisso. Os jovens de hoje têm muito mais possibilidades, com ferramentas criativas e acesso à informações através da internet e redes sociais.”
Na instituição onde ensina, o Instituto Federal de São João da Boa Vista, a professora passa os mesmos ensinamentos aos seus alunos, através de diversas atividades que são integradas com outros professores.
Expectativas para a Rio+20

Camila e Laís irão participar, também, da conferência oficial da ONU, que começa no próximo dia 13 com a última rodada de negociações antes dos dias mais intensos de discussão – os que terão a participação dos representantes dos países-membro. Mesmo consciente sobre as dificuldades das negociações, Camila mantém o pensamento positivo. “Eu percebi que algumas coisas já vieram prontas, mastigadas, mas o que me deixa mais aliviada é saber que, ao mesmo tempo, os jovens perceberam a falta de compromisso e estão questionando essa lógica.”
Para a professora, os jovens presentes na Youth Blast – Conferência dos Jovens para a Rio+20 têm, surpreendentemente, realizado discussões profundas sobre meio ambiente, de uma forma que englobe social e econômico, sem perder a essência. “Não é a discussão superficial sobre ecologia que tinha em minha época da juventude – é muito mais do que isso. É algo que envolve o social, econômico, cultural. Não é, por exemplo, falar da extinção do mico-leão-dourado e só, mas sobre a falta de peixe para uma colônia de pescadores ou o acesso a água e falta de saneamento na cidade”.
Por fim, completa “o mundo da futilidade e consumismo te faz infeliz. Mas estar aqui com minha filha me dá muita esperança”.

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