Daniel Santini
30 de Abril de 2012
Falta menos de uma semana para a proposta de
financiamento coletivo do projeto Pimp My Carroça, organizada no Catarse pelo
grafiteiro Mundano, ser concluída. Se ele não conseguir alcançar a meta
estabelecida de R$ 38,2 mil, não recebe um tostão das doações que foram feitas
e terá que procurar outra fonte de financiamento. Ou cancelar a iniciativa, que
tem como base a premissa de que é necessário reconhecer a importância do
trabalho dos catadores de material reciclável e tirá-los da invisibilidade. O
vídeo abaixo resume bem a proposta do Mundano.
Não é o primeiro projeto de financiamento coletivo divulgado pelo Outras
Vias, mas talvez seja o que mais tem a ver com a proposta do blog e do portal
((o)) eco, que é de abrir espaço para o debate sobre trânsito, transportes e
deslocamentos dentro de uma perspectiva de busca por equilíbrio ambiental e
social. A iniciativa apresentada no Catarse é a consolidação de um trabalho
artístico e social que vem sendo desenvolvido pelo grafiteiro há anos. Com
regularidade, o Mundano vem pintando carroças nas ruas de São Paulo e outras
capitais do Brasil e da América Latina, sempre chamando a atenção para os
contrastes brutais de sociedades em que carros grandes que consomem combustível
e poluem o ar que todos respiram são valorizados e glamourizados, enquanto
trabalhadores que se preocupam em revirar o lixo em busca de material a ser
reaproveitado são tratados com desprezo.
Em São Paulo, a situação é extrema. Desde pelo
menos 2007 o número de lixeiras com trancas não para de crescer na cidade. Em vez de buscar
fórmulas para reaproveitar e reciclar lixo que ainda têm valor, a população
busca métodos para evitar que os catadores tentem encontrar materiais
aproveitáveis. Com o argumento de que quem cata papelão, latas, jornal ou
plástico normalmente deixa um rastro de sujeira atrás, os paulistanos mais
ricos e, em tese, mais esclarecidos, começaram a trancar o próprio lixo. Isso,
investimento em segurança para garantir que ninguém rasgue o plástico que
protege a sujeira produzida, que provavelmente ficará enterrado por
décadas, séculos.
E assim que são alimentada as montanhas formadas
por lixo embalado, um colapso ambiental que se desenha desde 2007, quando eram coletadas 13 mil toneladas
de lixo da cidade por dia. Hoje, segundo dados apresentados no vídeo, são 17
mil toneladas de materiais recolhidos por dia, dos quais apenas 1% são
reciclados.
Mundano
vai na contramão do senso comum e, com bom humor e uma crítica por vezes ácida,
aponta e explicita tais contradições. Com talento e desenhos que lembram talvez
o modernismo, com figuras grandes, disformes e verdes, ele tenta criar fórmulas
mais concretas e sólidas para a valorização estes verdadeiros agentes
ambientais que perambulam marginalizados não só em São Paulo, mas nas demais
capitais do Brasil. E retoma a ideia de que a arte tem sim
papel político, deve perturbar, provocar reflexão, fazer pensar.Fonte: O ECO