Manifestações: sentimentos catalisadores em busca de mudanças desconhecidas


19/06/2013   -   Autor: Fernanda B. Müller   -   Fonte: Instituto CarbonoBrasil


A diversidade de demandas apresentadas nos protestos em todo o Brasil pode, para muitos, mostrar um sinal de fraqueza do movimento social, sem unidade. Por outro lado, comprova algo que há muito estava escondido por trás do notório ‘conformismo’ brasileiro: o modelo de desenvolvimento que está sendo imposto traz consigo enormes contradições.

O que antes era feito por debaixo dos panos, ou divulgado sem destaque pela imprensa e brevemente esquecido pelo povo, começa a ganhar eco nas redes sociais, e não, o povo já não esquece mais tão fácil. As redes sociais começam a deixar de ser uma simples ferramenta de replicação de abaixo-assinados e passam a ser catalisadoras de ideias antes consideradas como ‘radicais’.
Vi muitas críticas que o movimento está perdendo o foco. Iniciado pelo mote do ‘Passe Livre’, e consequentemente por uma vontade de reviravolta no sistema precário de transportes, o ciclo de manifestações em todo o Brasil ganhou vulto e agora tomou a forma de uma vontade generalizada de mudança.
Não concordo que a bandeira deixa de ser a melhoria no transporte e a discussão do Passe Livre, pois para se chegar a isto é preciso sim que os sistemas de corruptos e corrompidos deixem de ser tradicionalmente arraigados e aceitos e passem a ser condenados.
Também para se melhorar os transportes, a população precisa ter condições intelectuais e de bem estar suficientes para chegar ao ponto de sair do seu conforto e reivindicar os seus direitos e deveres como cidadão – muito já ouvi dizerem que tudo o que o povo quer é chegar em casa após 2 ou 3 horas no trânsito e um dia fatigante de trabalho.
A unidade deste movimento, no meu entendimento, está justamente no sentimento de revolta de parte da população que cansou de ser espectadora enquanto paga impostos tidos como um dos maiores índices mundiais e não tem nada em troca além de serviços públicos decrépitos, corrupção e alianças partidárias ridículas que parecem mais uma afronta ao tal principio do pluralismo político.
Ruralistas são os legisladores do Código Florestal, evangélicos preconceituosos encabeçam a Comissão de Direitos Humanos, condenados por corrupção são sucessores imediatos à presidência, indígenas continuam a ser ignorados e violentamente reprimidos, e nós, população que grita sem ser ouvida, é o que?
A constituição tem entre seus fundamentos ‘Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição’, pois então, que o povo retome as rédeas desta bagunça e se utilize dessa profusão de idéias, conhecimento e revolta para aprender a votar e discutir o que será do futuro.

Uma coisa é certa, nenhum partido político consegue mais abarcar as idéias de reviravolta no modo de se construir e gerenciar um país efervescente como o Brasil. Portanto, resta saber qual o caminho a seguir quando se não se enxerga mais esperança em nenhuma corrente política.
“Tudo confirma a ideia de que este mundo se unifica apenas tecnicamente, economicamente, mas não se unifica política, cultural e humanamente. Portanto, temos este mundo em explosão. E o que significa o termo “crise”? Uma crise significa perigo e oportunidade. Pode provocar desintegrações e até mesmo regressões. Mas, uma crise também pode levar a novas soluções. Quando um sistema não pode mais tratar de seus problemas vitais, o que acontece?
Ou o sistema se desintegra ou dá origem em si a outro sistema mais rico, capaz de tratar de suas questões fundamentais”, Edgar Morin durante o curso Fronteiras do Pensamento (2008 - POA), comentando sobre a crise global que se manifestava em 2008.
*Fernanda B. Müller é geógrafa e trabalha no Instituto CarbonoBrasil desde 2003. 

Fotos: Manifestação em Florianópolis no dia 18 de junho / Lucas Müller.



 

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