O TRANSTORNO CAUSADO POR UMA MOBILIDADE SEM CONTROLE ESTA ACABANDO COM A MÃO DE OBRA PRODUTIVA DESSE PAÍS.
Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior
Todos conhecem as causas, têm as soluções, sabem
como conduzi-las e porque
não são executadas?
Hoje nos grandes centros, o transporte e
o trânsito de veículos tem sido considerado o principal agente agressivo ao
homem e ao meio ambiente. Precisamos entender que o veículo automotor é uma
máquina extremamente perigosa, responsável por danos ao homem e ao meio
ambiente. Temos que discutir permanentemente o tripé “Homem, Máquina e Meio”.
Se dentro de uma fábrica nos preocupamos com
uma máquina fixa, imagine a preocupação com uma máquina móvel circulando entre
outras máquinas, pedestres e meio ambiente sem um controle de saúde e
segurança.
São Paulo, por exemplo, com uma frota de
seis milhões e meio de veículos não cresceu o suficiente em vias, alamedas,
avenidas, ruas para comportar essa quantidade de unidades móveis. Não vemos
planejamento para médio e longo prazo compatível com o volume de veículos que
já temos somado a expansão do mercado de automóveis, que ora o governo investe.
Máquinas e mais máquinas lançadas para um espaço virtual.
O
crescimento econômico prevalece sobre a preservação da vida. O interesse
governamental preocupa-se com a arrecadação, mas não com a aplicação de verbas
em serviços que reduziriam a perda de crianças, jovens e adultos quando em
mobilidade. Trata-se de uma perda assustadora.
Atitudes
políticas irresponsáveis e direcionadas para si próprio parecem prevalecer
diante de situações claras que necessitam condutas imediatas. Parece ainda que
não possuem banco de dados para comparar atitudes divergentes de Ministérios
como esses dados do Ministério da Saúde que seguem:
1990 a
2012 - 22 anos
- mortes por dengue -
6.337
1996 a
2010 - 14 anos
- mortes no trânsito -
518.000
Caso
a coisa evolua de maneira proporcional, com a consciência governamental que
nada acontece, teremos:
1996 a
2018 - 22 anos
- mortes no trânsito -
770.000
Vejam
só:
Guerra na Chechênia 25 mil mortes
Guerra civil em Angola 20,3 mil mortes
Guerra do Iraque 13 mil mortes
Transito no Brasil 518 mil mortes
Que
guerra é essa no Brasil ?
Não
está sendo contabilizado o número de incapacidades temporárias e definitivas
que irão gerar mais despesas.
A fiscalização para o cumprimento do
Código de Trânsito desapareceu.
Os
motoristas fazem o que bem entendem nas ruas.
Engarrafamentos,
lentidão no trânsito, acidentes, veículos quebrados nas ruas, agressões, tudo
compõe um sistema de transporte obsoleto, assustador.
Essa indústria do transporte, vamos chamar
assim, é responsável pela emissão de uma massa gasosa, vapores, poeiras, fuligens,
ruído, vibração que comprometem a população como um todo. O Brasil é um dos
cinco maiores emissores de material particulado do mundo. A quantidade de
ozônio liberada é preocupante.
O padrão tolerado de poeira fina é:
Estados Unidos - 15 mcg/m³ de ar
São Paulo
-------- 48 mcg/m³ de ar
É proibido fumar em São Paulo, mas não é
proibido respirar os poluentes atmosféricos gerados pelo trânsito.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia
afirma que num congestionamento de trânsito a inalação de poluentes equivale a
fumar oito cigarros.
Mas
que lei é essa que nos tira uma fumaça e deixa outra?
Será
que os legisladores identificam o absurdo?
Desta forma o motorista, o usuário do transporte,
o pedestre, o indivíduo que desenvolve trabalho num escritório, no comércio ou
mesmo aquele que está dentro de sua casa, são comprometidos por toda essa
poluição gerada pelo transporte.
O
meio ambiente sofre, e este é um dos agentes responsáveis pelo aquecimento do
planeta, pela chuva ácida que tudo destrói, pelas mudanças climáticas e pela
camada de ozônio.
Um dos componentes da agressão ao meio
ambiente que causa danos no organismo de todos nós, danos estes que são
irreversíveis, é o barulho produzido pelo transporte. Isso provoca lesão na
orelha interna produzindo inicialmente um zumbido (Tinitos), que evolui para
perda auditiva.
As pessoas não percebem a instalação da lesão.
Quando aparece já tem a lesão instalada e o importante é que se trata de
patologia evolutiva, irreversível e incapacitante. A surdez, por exemplo, é
motivo de incapacidade social e muitas vezes profissional como é para os
motoristas.
A vibração produzida pelo veículo leva a
contraturas musculares involuntárias o que concorre para maior utilização de
toda musculatura, comprometimento das articulações e atua no sistema
circulatório permitindo liberação de placas de gorduras ou coágulos que podem
circular levando ao que chamamos embolia ou tromboembolismo (deslocamento de
placas ou coágulos que ao circular levam a entupimento de vasos com calibre
menor). As dores musculares e a fadiga sempre são notadas em decorrência da
vibração.
Em
função da poluição ambiental morrem na cidade de São Paulo cerda de 10.000
pessoas.
Não
há dúvida que estamos diante de agentes agressores, veículos construídos para
nos favorecer mobilidade e qualidade de vida, hoje estão sendo reprovados por
toda a humanidade que perde cerca de 1,2 milhões de entes queridos nesse
inferno de máquinas, fumaça e ferros retorcidos.
Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior
Diretor de Comunicação e do
Departamento de Medicina de Tráfego
Ocupacional da Associação Brasileira de
Medicina de Tráfego (ABRAMET).
dirceu.rodrigues5@terra.com.br