MPT de Uberlândia investiga mortes e intoxicação de trabalhadores

por Diogo Machado

O Ministério Público do Trabalho (MPT) de Uberlândia investiga a morte de dois homens e a intoxicação de pelo menos outros 12, depois de eles terem contato com carbonato de níquel em pó. Eles foram contratados para fazer o transbordo de uma carga do produto após um acidente, no dia 23 de outubro, na BR-153, próximo a Centralina. A operação foi feita em um galpão em Uberlândia. Depois de terem contato com material, oito deles precisaram de internação.

O MPT conseguiu que as cinco empresas envolvidas custeiem medicamentos, exames, análise toxicológica e acompanhamento social para estes trabalhadores e suas famílias. “O MPT ainda não recebeu diretamente nenhum laudo que está previsto na determinação legal conseguida na Justiça”, afirmou a procuradora Karol Teixeira Oliveira, que investiga o caso. Um relatório toxicológico e de análise social dos trabalhadores deve ser encaminhado ao MPT.

A denúncia apresentada pelos trabalhadores ao MPT informava que eles não sabiam a natureza do produto manuseado e que não receberam os equipamentos de proteção adequados para o trabalho. Também não havia ocorrido, por parte da Votorantim, uma das empresas envolvidas, orientação de segurança ou treinamento para a atividade. “Entendemos que todas as empresas têm responsabilidade em relação ao caso e agora vamos apurar até que ponto cada uma está envolvida”, afirmou a procuradora.

Os fatos que levaram à ação tiveram início no dia 23 de outubro, quando um caminhão que transportava a carga tombou na rodovia BR-153. A carreta foi trazida para um depósito em Uberlândia e, cerca de cinco dias após o acidente, os trabalhadores foram contratados para fazer o transbordo da carga para um novo veículo que seguiu viagem. No dia 31 de outubro, o primeiro trabalhador foi internado e os outros casos vieram na sequência. Eles apresentaram problemas respiratórios e irritações na pele.

Empresas citadas na ação lamentaram o caso, mas não deram detalhes

As cinco empresas citadas na ação do Ministério Público do Trabalho foram procuradas pela reportagem do CORREIO de Uberlândia, mas apenas quatro delas se manifestaram. A Votorantim Metais, por meio de nota emitida pela assessoria de impressa, lamentou o acidente e informou que está apurando informações detalhadas sobre a ocorrência. “A empresa reitera seu compromisso e disposição para contribuir com as autoridades competentes”, dizia a nota.

A Suatrans Emergência e AGT Transportes também lamentaram o incidente, mas não comentaram o caso. Em contato com a assessoria de imprensa da Aqces Logística, esta informou que emitirá nota sobre a ocorrência, o que não foi feito até o momento. A última empresa citada na ação foi contatada, mas as ligações feitas não foram atendidas.

Contato com o produto pode causar doenças respiratórias, alergias e até cânceres

O carbonato de níquel, produto ao qual 14 trabalhadores ficaram expostos no mês de outubro e que teria levado à morte de dois deles, é classificado como perigoso, segundo os critérios do Sistema Harmonizado Globalmente para a Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos (GHS). O contato com a pele gera irritação e a poeira inalada, irritação nas narinas e garganta. A exposição prolongada pode causar doenças respiratórias e dano aos pulmões e, em pessoas sensíveis, reações alérgicas, além de afetar os órgãos internos.

Em caso de inalação é preciso remover a pessoa para local arejado. Se não estiver respirando, deve-se realizar respiração artificial. Se respirar com dificuldade, consultar um médico imediatamente. Quando o contato é com a pele, é preciso enxaguar abundantemente com água por no mínimo 15 minutos e tirar a roupa contaminada imediatamente. Não existe antídoto específico e o tratamento é sintomático.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define que o manuseio deste tipo de material deve ser feito com equipamentos de proteção definidos em função da concentração, quantidade e condições do local. Para o caso investigado pelo Ministério do Trabalho em Uberlândia, seria necessário o uso de óculos de proteção contra poeiras, avental ou vestimenta de proteção, botas, luvas de couro ou borracha, além de máscara com filtro fino (P1) definido pela ABNT.

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