Do outro lado

ERA UM MURO DE GRANDES PEDRAS escuras empilhadas, rejuntadas com uma massa marrom. Quando chovia, elas ficavam lisas, gosmentas de limo verde, que adorávamos arrancar com a ponta das unhas. Eu devia ter uns 6 anos, e as crianças da vizinhança não eram muito maiores. O muro ficava defronte à nossa casa, numa rua sem saída, e era tão alto que não dava para saber o que havia por trás dele. Discutíamos várias possibilidades o muro escondia a casa de uma velha louca, que comia ratos. Uma mansão mal-assombrada, onde vivia o vampiro. Não, não, lá tem um ogro, sugeria outro.
Só havia uma maneira de descobrir: precisávamos pular o muro.


Tentamos de várias maneiras acrobáticas, subindo uns nos outros, fazendo escadinha, nos empilhando sobre costas e ombros. (Nunca ocorreu a ninguém pegar uma escada ou uma cadeira ou pedir a um adulto que nos erguesse.) Fi­cávamos com joelhos e mãos esfolados, suados e esbaforidos. E, mesmo assim, nunca conseguíamos ver o que havia do outro lado.
Pouco tempo depois, mudamos de cidade. Cresci, esqueci do assunto. Até que, no ano passado, numa viagem, resolvi reencontrar essa rua. Reconhecendo as casas pelo caminho, de repente deparei com o muro.
E ele batia no meu ombro.
Ri sozinha. Esse era o muro gigante da minha infãncia? Dada a minha altura de hoje, aquelas pedras não têm mais do que 1,60 metro. E do outro lado, imagine, uma casa comum, como aquela em que eu morava. Só isso.
O tempo faz dessas coisas. O que hoje é enorme, dificil intransponível. daqui a alguns anos parecerá a bobagem. É assim com os medos da infância, com os dramas da adolescência, com as escolhas difíceis da vida adulta. Todos muros que, cedo ou tarde, iremos achar baixinhos, porque-mesmo-eu-sofri-por-isso?
Envelhecer não é sobre rugas. É, antes de tudo, sobre ganhar perspectiva. Como um quadro na parede: se você encostar o nariz nele, não vai ver nada. Mas dê quatro passos largos para trás, e eis que tudo fará sentido. Toda idade, toda fase, todo mundo têm suas crises. Elas servem para testar nossos limites, ensinam sobre a vida, obrigam a reinventar caminhos. Não é porque agora con­sigo pular uns muros que todos serão fáceis, mas estou certa de que a prática ao  menos ajuda a pensar novas maneiras de escalá-los sem esfolar tanto as mãos.
Nesta edição - do nosso primeiro aniversário - há muitas histórias assim, de gente que pulou muros. Espero que ajudem você a enfrentar os seus.

Fonte : Roberta Faria. Revista Sorria - Editora Mol



OPINIÃO  PESSOAL  
Este texto faz refletir nossa infância.Com o passar do tempo adquirimos amadurecimento e uma visão melhor das coisas, encontrar resposta a tudo que parecia  confuso em nossas mentes. 

Podemos influenciar as crianças durante todo o processo de aprendizagm, aproveitar os momentos de descobertas e encanto que elas possuem e ensinar as necessidades para preservação do meio ambiente e melhoria da educação que tanto necessita a humanidade.
Rogerio Godoy Princiotti
Educador Ambiental  - Blog Ecoharmonia.



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