Roubo de ovos de tartarugas

quarta-feira, 21 de abril de 2010


Roubo de ovos de tartaruga: A denúncia do massacre é verdadeira

Saque dos ovos de tartarugas para venda aos restaurantes na Praia de Ostional, do oceano Pacífico, localizada a 350 de San Jose, capital da Costa Rica. Observem a crueldade: os ovos são saqueados durante a postura das mamães tartarugas, causando-lhes muito estresse. Nem isto eles respeitam.

Nos últimos meses tenho recebido centenas de e-mails com as imagens chocantes do saque de ovos de tartarugas pelas pessoas nas praias da Costa Rica. Fiquei desconfiado porque estava cheirando boato de internet. Algumas mensagens que estavam chegando informavam que o local era o Rio Solimões, no Brasil!


Obviamente não poderia ser um banco de areia do rio Solimões, considerando que as imagens mostram claramente o mar, sacos de fertilizante utilizados para transportar os ovos escritos em espanhol e também as características físicas das pessoas. Então, como informavam a maior parte das mensagens, o local mais plausível para as cenas do massacre poderia realmente ser uma praia da Costa Rica

Os gestores do projeto garantem que em cada temporada são saqueados “apenas” 3 milhões de ovos e que este número é 10% do total que as tartarugas depositam

Estariam as praias das Costa Rica tornando-se mortais para as tartarugas? Eu fui atrás de fontes confiáveis e verifiquei que, infelizmente, estão. É o que parece. As imagens não mentem, não foram manipuladas e mostram uma triste realidade nas praias da Costa Rica: o saque de ovos de tartarugas para o consumo e venda para restaurantes que faturam alto com a iguaria servida para os turistas estrangeiros. Tal prática é, obviamente, motivo de muita preocupação porque ameaçam de extinção algumas espécies de tartarugas.

Estes ovos saqueados dos ninhos das tartarugas são embalados, recebem um selo de "coletados legalmente" e vendidos para bares, restaurantes e padarias em toda a Costa Rica.

Há 20 anos o pesquisador Douglas Clark Robinson, da Faculdade de Biologia da Universidade da Costa Rica, colocou em prática um projeto de geração de renda pioneiro envolvendo as famílias da comunidade de Ostional, em Guanacaste, com uma atividade duvidosa de coleta "sustentável” de ovos para consumo próprio ou comercialização para os restaurantes.

Ovos de tartaruga saqueados da natureza na cozinha de um restaurante da Costa Rica

Lembrando que o local é uma unidade de conservação da natureza, Refúgio Nacional da Vida Selvagem de Ostional, e são os ovos da tartaruga oliva (Lepidochels olivacea), espécie que ESTÁ AMEAÇADA DE EXTINÇÃO. A tartaruga oliva desova nas praias brasileiras também, no Nordeste.

Durante as primeiras 35 horas após o início da desova, os habitantes locais passaram a receber autorização para promover a retirada maciça de ovos que, segundo os defensores deste projeto macabro de manejo sustentável, seriam destruídos pelas levas seguintes de tartarugas que congestionam o reduzido espaço ainda disponível na praia para a desova. A verdade é que para a mamãe natureza não faz nenhuma diferença se uma agressão é autorizada ou não.

Dizem que o monitoramento é feito pela Universidade da Costa Rica, Instituto da Pesca e Ministério do Ambiente, que até hoje gerenciam o projeto. E, assim, como tem muita gente que acredita em papai Noel, alguns defendem com unhas e dentes que este projeto funciona e ajuda a salvar as tartarugas. Na verdade, o salários de muita gente provém destes projetos de manejo sustentável. A cadeia alimentar dos predadores de ovos de tartaruga é bem mais complexa do que se imagina.

Reparem nas imagens que a crueldade é tão grande que eles retiram os ovos durante a postura das mamães tartarugas, causando-lhes muito estresse. Nem isto eles respeitam. As tartarugas chegam exaustas àquela praia após viajarem milhares de quilômetros atravessando oceanos, achando que ali continua sendo um lugar seguro para terem seus bebês, como sempre foi há milhares de anos. Ainda não sabem que, agora, o local tornou-se uma praia mortal.

Para minha surpresa, a nota de “esclarecimento” do Projeto TAMAR/ICMBio publicada no site O ECO defende com vigor este saque de ovos de tartaruga pelas pessoas com o argumento de que seriam desperdiçados ao servirem de comida para os predadores naturais (aves, mamíferos...), como se estes animais não merecessem viver.
Esta imagem mostra que são saqueados até os ovos enterrados profundamente,que estavam bem seguros contra a ação dos predadores naturais.

Teoricamente, tudo é perfeito. Entretanto, na dura realidade da ganância humana, com o irresistível preço de 30 dólares o quilo de ovos de tartaruga, começaram a ser detectados problemas graves de gestão sobre a atividade. O projeto apresentou um terrível efeito colateral ao estimular a coleta ilegal que estaria ocorrendo mais fortemente em outras praias porque o governo costarriquenho não consegue controlar a atividade em todas as áreas protegidas.

O fenômeno da desova de tartarugas proporciona um espetáculo para os visitantes estrangeiros e a atividade turística na região é praticada de forma intensa, com a exploração imobiliária que reduz mais ainda o espaço para a desova das tartarugas. E, claro, como um atrativo principal para os turistas estrangeiros os roteiros turísticos oferecem cardápios com uma incrível variedade de pratos a base de ovos de tartaruga.

Em seu caderno de ciências do dia 14/11/2009, o jornal The New York Times publicou uma matéria que cita o problema da coleta de ovos de tartaruga na Costa Rica, informando que é comum e coloca em risco de extinção algumas espécies.


ROUBO DE OVOS DE TARTARUGA NO BRASIL?

Sim, temos este problema aqui também. Se tivéssemos fotos, as imagens não seriam muito diferentes destas da Costa Rica.
Veja a matéria publicada no jornal O Globo, 08/01/2010

Encontrados 50 mil de ovos de tartaruga na zona rural do Rio Grande do Sul

PORTO ALEGRE - A Companhia Ambiental de Pelotas confirmou no final da manhã desta sexta-feira que cerca de 50 mil ovos de tartarugas da espécie tigre-d'água foram encontrados em dez canteiros na localidade de Barra Falsa, zona rural de Rio Grande. A informação inicial era de que pelo menos 10 mil ovos estariam enterrados no local.
Trinta policiais militares participam da ação que encerra uma operação iniciada há seis meses. Os ovos são coletados nas margens do Canal São Gonçalo e enterrados à espera da eclosão. Famílias que estavam no local foram detidas enquanto a BM faz um levantamento dos envolvidos. A operação segue durante todo o dia.

Biólogos e veterinários do Núcleo de Reabilitação da Fauna Silvestre da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) estão no local. Os ovos serão removidos ainda hoje. A polícia trabalha com a possibilidade de contrabando dos animais para fora do país e do estado, além da venda para criação doméstica.


Matéria do Globo Amazônia, em São Paulo, 20/10/2009

Fiscais apreendem 200 ovos de tartaruga roubados de seus ninhos no PA

Ovos eram coletados nas margens do Rio Xingu.

Nesta época do ano, répteis usam praias fluviais para desovar.
Fiscais da Secretaria de Meio Ambiente do Pará (Sema) do Pará apreenderam 200 ovos de pitiú – espécie de tartaruga que vive nos rios da Amazônia – que estavam sendo retirados de seus ninhos no município de Senador José Porfírio, nas margens do Rio Xingu.

Devido às más condições em que foram armazenados, os ovos perderam a vida e não puderam ser devolvidos aos seus ninhos.

Nesta época do ano, quando os rios começam a baixar, tartarugas usam as praias de rio para desovar e se tornam presas fáceis de caçadores.

A fiscalização foi realizada na última quarta-feira (14), quando um homem foi encontrado coletando os ovos e colocando dentro de sacolas no tabuleiro – como são chamadas as praias de rio – de Embaubal, no Xingu. Segundo a Sema, o infrator Foi levado para a delegacia e poderá ser multado em R$ 500 por cada ovo apreendido. Ele alegou que estava desempregado e que os ovos seriam consumidos por sua família.


Roubo de ovos de tartaruga nas margens do rio Xingu, no município de Senador José Porfírio (PA) (Foto: Ana Monteiro - Sema (PA)/Divulgação)



Fonte: http://www.ra-bugio.org.br/
http://ra-bugio.blogspot.com/

Comentários
1 Comentários

1 comentários:

  1. Anônimo disse...:

    Olá,
    Sou professor da UFPA e trabalho há 16 anos com tartarugas. Também tenho recebido estes emails absurdos.
    Entretanto, embora também não acredite em Papai Noel, acredito no manejo. Ainda mais se o mesmo for participativo, tanto na consepção quanto na aplicação, avaliação, e divisão de benefícios.
    É de conhecimento geral dos pesquisadores que trabalham com biologia e conservação dos quelônios o projeto desenvolvido na Costa Rica.
    Recomendo ao autor do texto, que certamente tem a melhor das intenções, que vá verificar de fato como acontece. De mente aberta.
    Asseguro ao autor, e diversos colegas concordam comigo, que o manejo com base na coleta de ovos seria a solução para a conservação dos quelônios aquáticos na Amazônia, por exemplo.

    Esta mensagem tem circulado na internet há meses. Nestas praias da Costa Rica ocorre todos os anos um fenômeno conhecido como Arribada, onde dezenas de milhares de tartarugas marinhas da espécie Lepidochelys olivacea desovam em grupos enormes, por várias semanas. O comportamento gregário e colonial das fêmeas, ininterruptamente e por várias semanas, acaba acarretando em uma considerável perda de ovos que são destruídos pelas próprias fêmeas, tal é a quantidade de ninhos depositada. Então, as autoridades costariquenhas e as comunidades praieiras desenvolvem, há décadas, um programa de manejo baseado na coleta de ovos das primeiras semanas de desova, que seriam destruídos pelas próprias fêmeas que desovam depois. O bom observador vai perceber inclusive que, em algumas fotos, mulheres estão coletando ovos espalhados pela areia da praia, que foram escavados, arrancados do interior do ninho. Quem quiser saber mais, dê uma olhada nos arquivos em anexo descrevendo as atividades do projeto, um exemplo do que poderia e deveria ser feito no Brasil.
    Na Amazônia, particularmente no Xingu, no Taboleiro do Embaubal, onde desenvolvo pesquisa desde 2007, são produzidos cerca de um milhão e oitocentos mil ovos de ovos por ano, por fêmeas da tartaruga-da-amazônia, e em 2008 mais de 70% desta produção perdeu-se por causas naturais, como o alagamento por marés de lua e pela enchente do rio. As próprias fêmeas, como na Costa Rica, destroem uma quantidade considerável quando vão cavar seus ninhos em um local repleto de ninhos já depositados. Nos melhores anos, o taboleiro produz 600 mil filhotes, e portanto uma grande quantidade ainda assim é desperdiçada.Centenas de milhares de desovas são destruídos todos os anos, somente nesta praia, com dezenas de outras espalhadas pela bacia amazônica, sem qualquer aproveitamento. No Equador, existe um programa de manejo baseado na coleta, pela população ribeirinha, de ovos oriundos de ninhos com altas probabilidades de alagamento, e de proteção das desovas realizadas em locais mais altos e distantes da água. Deveríamos seguir estes exemplos manejar nossos recursos naturais, mas esbarramos no entrave da legislação brasileira, que não contempla qualquer forma de manejo de fauna na natureza.
    Sendo tão proibitiva quanto ao uso da fauna, nossa Lei joga comunidades tradicionais (que tem, por sua vez, direito LEGAL ao uso de recursos naturais) na clandestinidade e ignora que dezenas de milhões de animais silvestres são consumidos como alimento no Brasil, sem nenhum manejo. Ora, o manejo não existe porque a Lei não permite, já que o consumo de um animal é tolerado como uma exceção (artigo 37 da Lei de Crimes Ambientais), e portanto não permite que a fauna silvestre seja manejada por comunidades tradicionais. Na maioria dos países a fauna silvestre é manejada e no Brasil, o uso da fauna é abominado, um tabu quase que absoluto.
    Abraços,
    Juarez Pezzuti – NAEA/UFPA

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