Quando escrevi a postagem ‘Pra quê Árvores?’ mencionei uma atividade de sensibilização. Pois bem, aqui está ela na íntegra…
Avaliar a percepção ambiental requer estabelecer critérios para categorizar determinadas informações fundamentais no processo de transformação do meio (Boer, 1994).
Propõe-se um teste para avaliação da percepção ambiental, que pode ser aplicado ao aluno ou professor, ou mesmo à equipe ou aos colaboradores, para promover o debate sobre o andamento do projeto ou para orientar a necessidade de capacitação dos educadores sobre esse ou outro aspecto.
O teste deve ser aplicado antes (pré-teste) e depois (pós-teste) do processo educacional e considerar o conteúdo programático das aulas, como, por exemplo, o estudo do meio ambiente rural. A coleta do material para o teste é feita de maneira simples. Pede-se a cada pessoa do grupo a ser testado para desenhar u a paisagem do meio ambiente rural em uma folha de papel, uma paisagem a respeito do meio ambiente rural.
O teste baseia-se na análise quantitativa da presença de categorias em desenhos da paisagem em estudo. A repetição do teste no meio e/ou final do ano possibilita verificar mudanças de interpretação, a partir da comparação das diferenças entre a freqüência relativa do pós-teste com o pré-teste.
Sugere-se, a seguir, um conjunto de categorias para avaliar a percepção ambiental de alunos e professores participantes de projetos escolares de educação ambiental em áreas rurais sob intensa pressão urbanística e industrial. De maneira geral, as 13 categorias avaliam a inserção do ser humano e da agricultura no contexto paisagístico.
1- Inserção da figura humana – visão do homem como agente ativo no meio, seja como destruir ou conservador, mas como causador de impactos e intervenções ambientais.
2- Inserção da figura do sol – visão da necessidade e importância dos recursos naturais inesgotáveis, no caso a energia do sol, essencial para dinâmica da vida na Terra.
3- Inserção dos cursos d’água – visão da necessidade dos recursos naturais de disponibilidade limitada, no caso a água. Sua representação é importante, pela necessidade direta de consumo e pelo fato de as pessoas já estarem sentindo os efeitos de sua poluição.
4- Inserção da figura de animais – visão dos animais em interação com o meio, expressão natural da biodiversidade.
5- Paisagem natural – visão de ambiente voltada às paisagens naturais, visão ingênua de que tudo está bem.
6- Inserção da energia elétrica – visão da necessidade da energia elétrica para o desenvolvimento e bens de consumo da vida moderna, seja alternativa ou distribuída pela rede de transmissão das concessionárias.
7- Inserção de resíduos – visão realista da relação de desequilíbrio da interação antrópica com a natureza e a necessidade da destinação adequada.
8- Focos de paisagem natural junto a paisagens modificadas – noção da necessidade de preservação de certa porcentagem de área nativa ou reconstituída, junto às áreas de exploração.
9- Paisagens modificadas por construções (fábricas, residências, armazéns) – representam o processo adiantado de intervenção antrópica, inclusive da agricultura.
10- Paisagem modificada pela agricultura – a agricultura interage com o meio, causa alguns impactos, porém é uma atividade essencial para a sobrevivência humana.
11- Sistemas de transportes e comunicação (antenas, vias e veículos) – representam a necessidade de escoamento, distribuição de produtos, busca de serviços, enfim, intenso fluxo de informação, pessoas e produtos. Podem estar associados à globalização.
12- Visão de conjunto entre meio urbano e rural – compreensão da possibilidade de que o ambiente, a agricultura e o homem como um todo cheguem a um processo de desenvolvimento organizado que pode vir a ser sustentável.
13- Separação entre rural e urbano – dois meios distintos sem interação nem dependência, sem compromisso de preservação ou sustentabilidade.
O processo de avaliação da percepção ambiental por meio dos desenhos dá-se em cinco etapas.
Realizam-se a análise e a marcação das categorias presentes em cada desenho do pré-teste.
Em uma tabela, anota-se a soma de ocorrência (freqüência f) de cada categoria do conjunto de desenhos por grupo em avaliação. Ou seja, cada turma ou grupo de pessoas em avaliação pode corresponder a uma linha no quadro. Na linha, logo abaixo, calcula-se a freqüência relativa (Fr = f/∑, freqüência dividida pelo total obtido com a somatória de todas as somas de categoria), cujo termo significa a possibilidade de aquela categoria apresentar-se novamente, naquele momento. (tabela 1)
Posteriormente, aplica-se o pós-teste. Repete-se o processo de marcação de categorias presentes em cada desenho. Calcula-se a freqüência relativa de cada categoria. (tabela 2)
O processo de avaliação, por comparação dos pré e pós-testes, efetua-se segundo a interpretação das diferenças obtidas, entre as freqüências relativas das categorias do pós-teste e a freqüência relativa do pré-teste (Fr pós – Fr pré). (tabela 3)
A diferença expressa a mudança na interpretação cognitiva da paisagem. O resultado obtido é a compreensão na mudança da percepção dos avaliados, expresso graficamente ao enfatizar alguns elementos em detrimento de outros.
O mesmo processo de avaliação pode ser utilizado em outros contextos ambientais, alterando as categorias de análise dos desenhos e, se necessário, suprimindo ou acrescentando outras categorias.
Dessa forma, é possível também utilizar indicadores de questões socioeconômicas e culturais, desde que possam ser percebidas na paisagem, como, por exemplo, favelas, condomínios de alto padrão, pólos industriais, nível de manejo agrícola, serviços básicos, e indicadores culturais que diferenciem rural e urbano, agrupamento indígena, assentamentos rurais, pequenos agricultores, etc.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HAMMES, Valéria Sucena. Proposta metodológica de macroeducação. 2 vol. 2ª Ed. São Paulo: Globo, 2004.