Estudo busca solução para moradia de favela em São Paulo

Por Tatiana Nascimento, da Assessoria de Comunicação da FEA

Agência USP de Notícias 

Em sua dissertação de mestrado pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, o pesquisador Fernando Amiky Assad realizou uma pesquisa-ação na favela da Erundina, localizada na Zona Sul de São Paulo. Procurando soluções acessíveis para melhorar as condições de moradia da comunidade, por meio de uma melhor articulação entre diferentes áreas, desde assistência técnica em arquitetura, opções de crédito e até mesmo compra de materiais de construção, foi pensado um serviço integrado de reforma às residências da população de baixa renda, uma opção mais eficiente e mais barata que representa uma alternativa para os moradores não recorrerem ao método habitual de “auto-construção”, ou seja, reformar por conta própria.
Auxiliado por uma associação de moradores da comunidade chamada “Bloco de beco”, Assad realizou frequentes visitas à favela, durante um período de seis meses, para identificar pontos críticos que dificultavam a viabilização das reformas pretendidas pelos moradores. Foram selecionadas cinco famílias para um acompanhamento mais próximo dos planos para suas residências.
“Crédito, mão de obra e materiais de construção são os problemas mais comuns. A carência de profissionais da área gera falta de segurança e preços mais altos”, diz Assad. Além disso, as irregularidades presentes nestes locais impossibilitam a liberação de crédito. Com menos dinheiro, os moradores são obrigados a comprar os materiais de construção pouco a pouco, de forma ‘picada’. Sem informações corretas de como armazenar estes materiais, os produtos são muitas vezes perdidos.
Além de tornar todo o processo de reforma e construção mais longo, a falta de conhecimento técnico aumenta consideravelmente o custo final da obra. Apesar de ‘economizar’ dinheiro, dispensando auxílio profissional especializado, dados apontam que o método de auto-cronstução aumenta em até 30% o custo final da obra. Com tantas dificuldades, o alvo deste estudo foi buscar soluções de baixo custo que dessem conta do desafio.
Déficit habitacional
A escolha do tema veio ao encontro de outros dados apresentados durante a dissertação, que indicam que em 2030, 40% da população mundial deverá viver em moradias precárias e 25% simplesmente não terá onde morar. No caso do Brasil, este déficit habitacional já é de 5,546 milhões de domicílios e cerca de 11 milhões de moradias já construídas sem infraestrutura adequada. Esses dados estão concentrados na faixa da população com rendimentos familiares mensais de até três salários mínimos.
“É fundamental na área de administração, que é ciência social aplicada, estudos que tenham este propósito”, diz a professora Graziella Comini. “A dissertação do Fernando tem como mérito contribuir para o avanço de estudos teóricos no tema de negócios socioambientais, bem como estimular profissionais a investir neste campo de trabalho, seja como investidores ou empreendedores.”
Integração
Baseado em todos os resultados colhidos durante as visitas, Assad propõe como sugestão pensarmos em um serviço integrado, uma espécie de modelo de negócio que contemplasse todas as demandas apresentadas pelos moradores da comunidade. Desta forma, a partir de um centro organizacional, seriam articuladas assessorias para facilitação do crédito, contratação de mão de obra especializada e até mesmo auxílio profissional para a compra de materiais de construção da maneira correta.
O mestrando conta que desde quando entrou na graduação, nunca se satisfez com a ideia de apenas maximizar o lucro dos acionistas de uma empresa. Por isso, procurou pautar seus estudos e atuação profissional por conhecer e desenvolver modelos organizacionais híbridos, que visem, ao mesmo tempo, gerar valor econômico e social.
Sobre o que mais lhe chamou a atenção durante seus estudos, Fernando destaca dois aspectos: “o primeiro deles foi relembrar as condições de vida extremamente degradantes de quem mora em uma favela. Definitivamente nós precisamos conhecer melhor a pobreza”. E o segundo: “há muito espaço, conhecimento e vontade por parte da população de baixa renda de criar soluções para a superação de alguns problemas sociais que enfrentam. Muitas vezes o que precisam para fazer acontecer é apenas um incentivo, uma dica, ou um apoio inicial”, diz.

Fonte: Plurale

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